sábado, 10 de novembro de 2007

Diretor de "Noel" diz ter feito filme na contramão do mercado


SILVANA ARANTES
da Folha de S.Paulo

O diretor Ricardo Van Steen reconhece que fez "Noel - Poeta da Vila", seu primeiro longa-metragem, na contramão do mercado. Deliberadamente.

Dos amigos e/ou especialistas em cinema a quem mostrou seu roteiro, Van Steen ouviu avaliações negativas. "Todo mundo dizia que não estava bom. Se eu fizesse a opção de me aproximar de um distribuidor naquele momento, implicaria necessariamente refazer tudo com alguém indicado por ele. E eu não queria", conta.

Delegar o filme ao crivo de terceiros, para Van Steen, seria abrir mão de seu propósito com o filme. ""Noel - Poeta da Vila" é arte. Não é uma encomenda, Não é para atender demandas. É meu "Fitzcarraldo" pessoal", diz, citando o longa que resultou da odisséia de Werner Herzog pela Amazônia, nos anos 80. Van Steen levou dez anos para viabilizar seu filme, com R$ 4,5 milhões, obtidos por meio das leis de renúncia fiscal. Ele diz que o filme não tem a pretensão de "renovar a linguagem do cinema", mas traz o empenho de "encontrar imagens à altura da poesia do Noel".

Ainda sem distribuidor, o cineasta planeja lançar o longa até maio do ano que vem, quando se completam 70 anos da morte de Noel Rosa (1910-1937). "Não posso pensar em não estrear", diz. Com a participação em festivais --o longa esteve no Festival do Rio, neste mês, antes da competição na Mostra de SP-- o cineasta quer provar que "Noel - Poeta da Vila" é "um filme de público".

A aprovação popular, na opinião de Van Steen, confirma a volta por cima das avaliações iniciais, que apontavam o fracasso do projeto e acabaram servindo para que ele aperfeiçoasse à exaustão tanto o roteiro quanto a montagem do filme. O resultado final, diz, traduz "a força do presumido contra o poder da mão na massa".

Van Steen e Jorge Durán, diretor de "Proibido Proibir", feito com R$ 1,1 milhão e que também está sem contrato de distribuição, negociam atualmente com distintas empresas o lançamento de seus filmes.

"Esse fantasma [do engavetamento] se afastou um pouco", diz Durán. O cineasta brasileiro de origem chilena vê certo "exagero" na proposta de Rodrigo Saturnino Braga, da Columbia, de impedir o início de filmagens de projetos sem distribuição garantida. Mas diz que "ele tem razão que é melhor contar com um distribuidor desde a partida [do filme]".

Muito embora observe que uma distribuição garantida não seja sinônimo de sucesso. "Os distribuidores apostam em filmes que às vezes não dão em nada. Não é porque vão distribuir que você tem a segurança de que irá funcionar."


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Assisti "Proibido Proibir" e digo que é um filme excelente! Não tem mesmo nenhum fundo mercadológico, mas não consigo entender como um produção dessa qualidade continua sem contrato de distribuição! É crítico, sem ser previsível. Maravilhoso, na minha opinião!

Estou esperando bastante de "Noel - Poeta da Vila" também! Por tratar-se da história de um compositor famosíssimo e por ser dirigido por quem é, acho muito difícil me decepcionar! =D

Noel - Poeta da Vila (Noel - Poeta da Vila)


País: Brasil, 2006, 99 min
Direção:
Ricardo van Steen
Roteiro:
Pedro Vicente
Fotografia:
Paulo Vainer
Elenco:
Camila Pitanga, Rafael Raposo, Paulo César Peréio, Roberta Rodrigues, Flávio Bauraqui, Jonathan Haagensen, Supla

Descrição:
Anos 20: Noel Rosa tem um defeito no queixo, que disfarça com o cigarrinho pendurado na boca. Estudante de Medicina, toca no Bando dos Tangarás, um regional com jovens do bairro. Mesmo sendo branco de classe média, dá-se melhor com negros, operários e mulheres da vida. Conhece Ismael Silva e por meio dele chega ao mundo do samba, onde toma contato com pessoas como o pedreiro Cartola, da Mangueira. Descobre a malandragem. A partir de uma paródia ao Hino Nacional, compõe "Com Que Roupa?", seu primeiro sucesso. Aos 19 anos de idade, vende milhares de discos. Torna-se ídolo do rádio, é aclamado "arauto das aspirações cariocas" e "filósofo do samba". Celebridade, entrega-se à boemia. No Carnaval, conhece a operária Lindaura, de quinze anos, e começa a namorar. Meses depois, conhece a dançarina Ceci e por ela se apaixona. Divide-se entre as duas mulheres, trabalha muito, dorme pouco, vive gripado e fraco. Denunciado pela mãe de Lindaura como raptor e sedutor de menores, é obrigado a se casar sob pena de prisão. Descobre-se tuberculoso. Vai para Belo Horizonte e tenta recuperar sua saúde. Volta ao Rio de Janeiro, reencontra Ceci e abandona Lindaura. Torna-se parceiro de Ismael e do cantor Chico Alves. Em encontros ocasionais, engravida Lindaura. Ceci o deixa, e Lindaura perde o bebê. Noel bebe mais ainda. A tuberculose piora, ele mal consegue se locomover.

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

O motivo do grito





Falando de distâncias entre corações...




Um dia, um pensador indiano fez a seguinte pergunta a seus discípulos:

- Porque as pessoas gritam quando estão aborrecidas?
- Gritamos porque perdemos a calma, disse um deles.
- Mas, por que gritar quando a outra pessoa está ao seu lado, questionou novamente o pensador.
- Bem, gritamos porque desejamos que a outra pessoa nos ouça, retrucou outro discípulo.

E o mestre volta a perguntar:
- Então não é possível falar-lhe em voz baixa?
Várias outras respostas surgiram, mas nenhuma convenceu o pensador.

Então ele esclareceu:

- Vocês sabem por que se grita com uma pessoa? O fato é que quando duas pessoas estão aborrecidas, seus corações se afastam muito. Para cobrir esta distância precisam gritar para poderem escutar-se mutuamente. Quanto mais aborrecidas estiverem, mais forte terão que gritar para ouvir um ao outro, através da grande distância. Por outro lado, o que sucede quando duas pessoas estão enamoradas? Elas não gritam.
Falam suavemente. E por quê? Porque seus corações estão muito perto. A distância entre elas é pequena. Às vezes estão tão próximos seus corações, que nem falam, somente sussurram. E quando o amor é mais intenso, não necessitam sequer sussurrar, apenas se olham, e basta. Seus corações se entendem.

É isso que acontece quando duas pessoas que se amam estão próximas.

Quando vocês discutirem, não deixem que seus corações se afastem, não digam
palavras que os distanciem mais, pois chegará um dia em que a distância será
tanta que não mais encontrarão o caminho de volta.

"A boca só fala do que o coração está cheio, verifique sempre o conteúdo de seu coração"

domingo, 23 de setembro de 2007


Olhe, vá em frente, não se esqueça

Liberdade dentro da cabeça

E a cabeça fora do que há

De mal pra você

Ouvindo a música, sentindo o que ela me traz, uuuu...

Subo até as estrelas para entender como é que se faz,
faz, faz

Para esquecer a dor que os meus olhos não conseguem
ver

Destrua o meu coração que estará destruindo você,
uuu..

Você é filho da terra, dadiva dada por seu Deus,
uuu...

A fome dos meus filhos não será a riqueza dos seus

Ô chama que destrói, corrói o que é belo, tudo o que
faz bem

Controle suas palavras, minha liberdade não pertence a
ninguém

Mas o amor pode chegar, ilumi....nar e colorir ...

Quando um coração está cansado de ver

As lágrimas da rosa ao ver o espinho morrer

Mas, o carcará foi dizer à rosa

Que a luz dos cristais vem da lua nova e do girassol

Olhe vá em frente não se esqueça

Liberdade dentro da cabeça

E a cabeça fora do que há de mal para você

Olhe vá em frente não se esqueça

Liberdade dentro da cabeça

E a cabeça fora do que há de mal

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Fita Amarela - Noel Rosa

Quando eu morrer,
Não quero choro nem vela,

Quero uma fita amarela

Gravada com o nome dela.

Se existe alma

Se há outra encarnação

Eu queria que a mulata

Sapateasse no meu caixão

Não quero flores

Nem coroa com espinho

Só quero choro de flauta

Violão e cavaquinho

Estou contente,

Consolado por saber

Que as morenas tão formosas

A terra um dia vai comer.

Não tenho herdeiros

Não possuo um só vintém

Eu vivi devendo a todos

Mas não paguei a ninguém

Meus inimigos

Que hoje falam mal de mim,

Vão dizer que nunca viram

Uma pessoa tão boa assim.


quinta-feira, 13 de setembro de 2007


"Vivem os estudantes de direito hoje, no Brasil, uma perplexidade singular e angustiante: quase tudo aquilo que seus professores de direito penal, processual penal e - nas raras escolas que oferecem a disciplina - criminologia lhes ensinam é cabalmente questionado ou desmentido, em uníssono, pelas grandes empresas de comunicação, em seu noticiário, seus editoriais, suas "pesquisas", suas peças publicitárias e suas crônicas. É como se o fruto desse pensamento único da grande mídia, convertido em discurso propulsor de um senso comum político-criminal, advertisse permanentemente os estudantes de direito para o que se espera que eles venham a ser: juízes impiedosos perante os dramas que desfilam à sua frente, promotores sádicos que se comprazem em contabilizar os séculos de liberdade humana que lograram embargar, advogados submissos pela covardia ou pelo carreirismo, policiais capazes de degustar um charuto entre os corpos ainda quentes executados. São esses os heróis deles. Mas a juventude acadêmica deseja outro destino, e irá construí-lo, na contra-mão do senso comum massivamente destilado pelas manchetes dos jornais e pelos âncoras da tevê..."


A juventude acadêmica e a questão criminal
Nilo Batista

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Presença em Pompéia

Esta conta não pagarás:

— ficará sob uma cinza que não sabes.


Sob a cinza que ainda não sabes
ficará teu filho por nascer
e também os meninos que já sabiam desenhar nos muros.


Ficarão os figos que ontem puseste na cesta.
Ficarão as pinturas da tua sala
e as plantas do teu jardim, de estátuas felizes,
sob a cinza que não sabes.


Os gladiadores anunciados não lutarão
e amanhã não verás, próximo às termas,
a mulher que desejavas.


Tu ficarás com a chave da tua porta na mão;
tu, com o rosto da amada no peito;
amo e servo se unirão, no mesmo grito;
os cães se debaterão com mordaças de lava;
a mão não poderá encontrar a parede;
os olhos não poderão ver a rua.


As cinzas que não sabes voarão sobre Apolo e Ísis.
É uma noite ardente, a que se prepara,
enquanto a luz contorna a coluna e o jato d'água:
— a luz do sol que afaga pela última vez as roseiras verdes.

Cecília Meireles



Pompéia foi outrora uma antiga cidade do Império Romano situada a sensivelmente 22 km da moderna Nápoles, na Itália, no território do atual município de Pompéia. A antiga cidade foi destruída durante uma grande erupção do vulcão Vesúvio no ano 79 depois de Cristo. A erupção do vulcão provocou uma intensa chuva de cinzas que sepultou completamente a cidade, que se manteve oculta por 1600 anos antes de ser reencontrada por acaso. Cinzas e lama moldaram os corpos das vítimas, permitindo que fossem encontradas do modo exato em que foram atingidas pela erupção do Vesúvio. Desde então, as escavações proporcionaram um sítio arqueológico extraordinário, que possibilita uma visão detalhada na vida de uma cidade dos tempos da Roma Antiga.


sábado, 1 de setembro de 2007

Pelo Tombamento Estadual do Cine Icaraí - Niterói

Assinem!!! http://www.petitiononline.com/icarai/



Desde agosto de 1907, funcionava ao ar livre no Jardim Icaraí, hoje praça Getúlio Vargas, o Cinematógrapho Icarahy, que utilizava energia elétrica cedida gratuitamente da Cia. Cantareira e Viação Fluminense.


Em 30 de setembro de 1916 em uma bem montada casa no local do atual Cine Icaraí começaram as exibições - com os filmes “O crime da meia noite” e “Uma causa célebre”.

O prédio atual foi construído nas décadas de 30/40 dá seguimento à tradição de exibições de filmes no local. Ele compõe um importante reduto artístico da cidade inserido na vida cultural de Niterói juntamente com a Reitoria da UFF, que abriga o Centro de Artes (Galeria de Arte, Fotografia, Espaço Livre, Cinema, Orquestra Sinfônica Nacional e Teatro).

É um dos últimos prédios em nossa cidade com traços da influência da arquitetura Art Déco, muito utilizado nos tempos áureos do cinema americano de Hollywood, além de testemunhar o desenvolvimento urbano de Niterói.

O Cinema Icaraí é testemunha da construção de uma capital cultural e política para o Estado do Rio de Janeiro e marca arquitetonicamente essa história.

Considerando ainda a afeição que os niteroienses, de diversas gerações, possuem pelo Cine Icaraí, o município através da Lei 1838/2001 promove o seu tombamento, preservando-se assim definitivamente a sua condição, uso e a Praça Getúlio Vargas acima citada.

No entanto, em 2005, o Conselho Municipal de Proteção do Patrimônio Cultural – CMPC – em reunião com representantes do Grupo Severiano Ribeiro, proprietário do imóvel e do cinema á época, toma ciência de que este não deseja mais manter o cinema aberto por questões comerciais, em especial a disputa com os espaços de cinema Multiplex.

Nesse sentido, em negociação, o CMPC flexibilizou o interior do prédio de modo a permitir a construção de mais salas, tornando o cinema viável economicamente.

Mas mesmo assim, a graças ao lobby da indústria imobiliária, deixando de fora o CMPC das decisões, foi promulgada a Lei 2381, em agosto de 2006, que “destomba” parcialmente o Cinema Icaraí ao preservar apenas a fachada frontal do prédio e permite a construção de um edifício de 14 andares de apartamentos, o que desfigura o prédio, além disso, passa a entender como cultura lan house e outros tipos de lojas.

A Prefeitura Municipal de Niterói vetou o Projeto de Lei de destombamento e o Conselho Municipal de Patrimônio Cultural deu parecer unânime o contrário.

Porém, a Câmara de Vereadores derrubou o veto do prefeito.

Desde então, os moradores do município têm realizado manifestações públicas em defesa do Cine Icaraí. Já são mais de oito mil assinaturas e praticamente todas as entidades do movimento social organizado estão nessa luta, o que demonstra uma vontade pública de ter de volta, sem descaracterização arquitetônica, o Cine Icaraí.

Mais do que isso, o Cine Icaraí é em nossa cidade um patrimônio cultural integral, entendido pelo valor arquitetônico e pelo seu uso como cinema. É a síntese de patrimônio imaterial e material, onde um enriquece e dá significado ao outro.

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Artigo-resposta à Folha de SP, pelo CA XI de Agosto (Direito/USP)

Em defesa da educação pública e da verdade

Por Lúcia Stumpf e Ricardo Ribeiro*

Em artigo publicado neste espaço no último domingo, o diretor da
Faculdade de Direito da USP, João Grandino Rodas, procura justificar
suas atitudes em relação ao ocorrido entre os dias 22 e 24 deste
mês. Primeiro, a ocupação simbólica da instituição pelos movimentos
sociais. Depois, a truculenta desocupação pela Tropa de Choque da
Polícia Militar. Por fim, o fechamento da faculdade por dois dias,
com suspensão das aulas.

O desembargador evoca o Estado democrático de Direito, os bons
índices acadêmicos e de pesquisa da universidade pública brasileira
e dispara: "É aceitável que grupos alheios à universidade a usem
como palco privilegiado de suas reivindicações, por mais justas que
possam ser?".

Nossa resposta: o objetivo, ao adentrar simbolicamente as
centenárias arcadas, foi provocar a reflexão sobre os graves
problemas que afetam a educação em nosso país e dizer que queremos,
sim, cada vez mais, ver pobres, negros e sem-terra, "os alheios",
ocupando as carteiras das universidades brasileiras.

Ao longo dos anos, o sistema público de ensino inverteu a sua lógica
de ser instrumento de inclusão, promoção social e desenvolvimento
nacional. Sofreu intenso processo de desmonte e se transformou em
mais um mecanismo de exclusão e marginalização de alguns setores da
sociedade.

Sem contar que a faculdade de direito, ao longo da história, se
consagrou como guarida, porto seguro, o que lhe garantiu a alcunha
de "Território Livre" para todos que enfrentavam anos difíceis nas
ruas do país. Podemos lembrar a resistência ao Estado Novo e à
ditadura militar, a greve dos metalúrgicos em 1978, as campanhas
pela anistia e as Diretas-Já.

A ocupação não desacreditava ou solapava a instituição, como sugere
o diretor. Sem a dramatização que carrega o seu texto, o protesto
contava, sim, com elementos ligados à universidade: estudantes da
USP e de outras instituições organizados pela UNE (União Nacional
dos Estudantes).

O diretor soube desse fato desde o princípio, pois enviou o
professor Nestor Duarte para representar a diretoria e conversar com
os manifestantes. Além disso, foi informada a presença do Centro
Acadêmico XI de Agosto, que, apesar de não ter participado do ato,
queria garantir que a ocupação ocorresse pacificamente.

A manifestação era simbólica e integrava a Jornada de Lutas em
Defesa da Educação, série de protestos que mobilizaram mais de 100
mil pessoas em diversas cidades e que promoveram outras ocupações de
caráter pacífico e sem incidentes com a polícia.

Símbolo desse sistema excludente, a Faculdade de Direito da USP
deveria ficar ocupada por um prazo determinado e amplamente
divulgado de menos de 24 horas. O músico Tom Zé esteve presente ao
ato, realizou show improvisado e declarou apoio à ocupação. A
proposta, desde o início, era realizar até as 15h do dia seguinte
outras atividades culturais, debates e grupos de discussão.

Em nenhum momento houve intenção de esbulho possessório, já que por
esta prática se entende o "ato de despojar o possuidor da sua posse
injustamente, ou seja, de forma clandestina, violenta ou por abuso
de confiança". Não se configurou -e isso quem fala são
representantes que estavam dentro da ocupação até as 2h, quando a
Tropa de Choque chegou batendo os cacetetes em seus escudos- nada
que justifique a acusação.

Não foi um ato clandestino. Não houve violência. A entrada e a saída
do prédio não foram impedidas. As aulas não foram interrompidas e
ocorreriam normalmente no dia seguinte. Não abusamos da confiança do
diretor -muito pelo contrário, ele é que o fez, enviando
representantes para negociar enquanto solicitava a intervenção da
PM.

A entrada do choque no "sagrado solo de são Francisco", em especial
na Sala dos Estudantes, mancha a história da instituição, pois a
fere em sua conceituação de território livre, algo tão caro para
várias gerações. Reforça ainda a visão dominante de que a
universidade pública é feita somente para os que conseguem ter
acesso a ela.

No caso da USP, em particular no curso de direito, ingressam, na
maioria, filhos de uma elite nacional sustentados, como lembra o sr.
Rodas ao final de seu artigo, "pelos impostos de todos os
paulistas". Uma parcela representativa desses contribuintes,
inconformados com a atual situação, estava se manifestando na
universidade. Como nos anos de chumbo, saíram de lá no camburão da
polícia.

* Lúcia Stumpf , 25, estudante de jornalismo da FMU, é presidente da
UNE (União Nacional dos Estudantes).
* Ricardo Leite Ribeiro , 22, estudante da Faculdade de Direito da
USP, é presidente do Centro Acadêmico XI de Agosto.

terça-feira, 28 de agosto de 2007

AULA DE DIREITO NO LARGO DE SAO FRANCISCO

Achei interessante, como estudante de direito, colocar esse manifesto aqui afim de exemplificar os abusos que ocorrem dentro das casas que deveriam ser guardiãs da justiça. Esse episódio ocorreu na USP, porém, mais mascaradamente ou não, ocorrem abusos de poder em todas as faculdades de direito do país, curso tal que, infelizmente, acaba sendo apenas acessível à elite.


No dia 22 de agosto de 2007 tive a minha primeira aula de Direito de verdade
na Faculdade de Direito da USP, do Largo de São Francisco! O Direito na realidade
é assim:

LIÇÃO 1

Na verdade, essa eu aprendi no primeiro dia que pisei na Faculdade. Moradores
de rua não estão enquadrados no conceito ser humano e por isso não precisam
ter a sua dignidade protegida, o que justifica juristas passarem ao seu lado
diariamente e não se indignarem com a condição dessas pessoas.

LIÇÃO 2

Os impostos devem ser pagos por todos e todas. Inclusive por esses moradores
de rua que pagam ICMS quando por milagre comem ou ao tomarem alguma bebida
para esquecerem o frio e a miséria. E é esse imposto que financia os bancos
das Universidades Públicas. A ocupação dessas pessoas da frente da faculdade
financiada por elas, tudo bem, ninguém liga...mas ai delas!!! se resolverem
adentrar. Afinal de contas é espaço público de uso restrito de quem passou
no vestibular!..E aí faz sentido que a faculdade também seja de propriedade
particular dessas pessoas como fica claro nos dizeres recorrentes dos estudantes
que se referem a ela como "minha faculdade".

Mas o pátio da gloriosa já muitas vezes foi usado para festas (a qual os
estudantes da faculdade diariamente reclamam que deva voltar a ter essa utilidade),
como o almoço dos antigos alunos que para participar e entrar na faculdade
aquele dia era necessário pagar R$50,00 (cinqüenta reais), e nessas festas
não tinham só aqueles que passaram na FUVEST, tinha muita gente de fora,
amigos desses talvez? E nem o direito de ir vir de todos estava protegido?...Ah!
Entendi!..É espaço público restrito a quem é branco, filho de classe média
ou alta, e que só esses têm o direito de definir a que fins se destina!

Se há alguns poucos que saem dessa categoria de pessoas por terem feito a
façanha de também passar no vestibular (que furo no sistema!), não há problema
desde que continue a configurar como exceção, mas essas pessoas vão ter que
sofrer a conseqüência sendo parado pelo segurança que não acredita que ele
é aluno dali, como relata um estudante negro da faculdade!

LIÇÃO 3

O diretor, configurando como outro dono desse espaço, pode fazer e desfazer
quanto ao uso dele. Pode num momento dizer que tudo bem a ocupação daquelas
pessoas ocorrer ali, e num outro momento, na calada da noite, ordenar que
a tropa de choque entre em "seu espaço" e exerça a sua força para retirar
aquelas pessoas, agora invasoras, dali!

LIÇÃO 4

Apesar de não haver nenhuma denúncia contra aquelas pessoas, já que nenhum
dano havia sido feito contra o patrimônio e nenhuma ação delas estava contra
qualquer lei penal, a ausência de qualquer mandado para retirá-las é totalmente
aceita. Afinal de contas, para prender pobre e negro na sociedade como um
todo, como é de notório saber, não há a necessidade de mandado também!

Isso eu aliás aprendi com um dos policiais, quando perguntei para o tenente
do comando: Você jura que vai mandar a tropa entrar aqui na sala dos estudantes
quando nem na ditadura a polícia fez isso?, a que o policial ao seu lado
respondeu : A gente faz o que quiser!
Por isso a ação da tropa de choque no território livre da SãoFrancisco é
totalmente legal! Até porque, como já explicado, esse território só é livre
só para aqueles que passaram no vestibular e para as pessoas da sua mesma
condição de classe e cor!

LIÇÃO 5

Se na prisão dessas pessoas, negras e pobres, houver crianças e velhas, não
há problema algum e não há necessidade de cuidados especiais. Afinal o ECA
e o Estatuto do Idoso não foram feitos para pessoas dessas categorias! Mais
uma atitude legal da tropa de vir para cima delas!

LIÇÃO 6

Outra aula de legalismo: essas pessoas invasoras, que colocaram em risco
toda uma ordem do sistema, não possuem direito a presença de advogado no
ato da sua prisão! Assim, a proibição por parte da polícia do acesso dos
advogados a essas pessoas antes de irem para a Delegacia também foi legal!

LICÃO 7

Para finalizar a aula de legalismo, se você é branco, filho de classe média
ou alta e configura como dono(estudante) da gloriosa não comete nenhum ato
infracional e por isso só terá seu nome listado para ser entregue depois
ao supra dono do local, o diretor, para tomar as medidas contra você que
se atreveu a tentar colocar em risco a ordem!Porém, se você é negro e pobre
irá para um camburão separado e será fichado!

LIÇÃO 8

Essa foi sobre democracia e aprendi com muitos estudantes no pátio da faculdade
após retornar da delegacia: expresse-se como quiser, desde que não seja contra
a manutenção do direito como sinônimo de privilégio social e de cor! O direito
a educação não deve ser direito de todos, mas se manter como privilégio!
E se escrever contra a retaliação que sofreu por defender contrário a isso,
terá os seus cartazes arrancados da parede!

Esse é o direito que se aprende na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco!
E os aprendizes do poder[1] aprendem bem a lição e por isso decisões de juízes,
como a do caso Richarlyson, que como base da decisão apresenta a idéia de
cada macaco no galho, vão configurar como majoritária no nosso Judiciário
ainda por muito tempo!


[1] Livro "Aprendizes do Poder", Sérgio Adorno

*Lívia Gimenes Dias da Fonseca - 5ºano da Faculdade de Direito da USP, que
quando se formar será ex-aluna (e não antiga) porque, saravá, o "espírito
sãofrancisco" nunca se apossou de mim!

Quem Invadiu a Faculdade de Direito em SP? 17 de agosto UFG(GO) x 22 de agosto Usp(SP)


Reproduzo aqui um artigo recebido por e-mail, de autora de nome Pola.



A INVASÃO da USP pela tropa de choque da PM
Na madrugada de 22 de agosto, a tropa de choque da PM de São Paulo INVADIU, a mando da direção e com a conivência do Governo estadual, a Faculdade de Direito da USP, no Largo São Francisco. Invadiu porque estudantes e movimentos sociais haviam OCUPADO o prédio da faculdade horas antes e tiveram a ousadia de bradar: Ahá Uhú, a São Francisco é nossa!

O ato fazia parte da "Jornada Nacional em Defesa da Educação Pública", cuja pauta reivindicatória distribuída em dezoito eixos fora democraticamente construída por mais de trinta organizações sociais, incluindo setores estudantis, sindicais e a igreja – todos eles preocupados com a garantia efetiva de um direito constitucional do povo brasileiro.

Seis dias antes deste triste episódio, o Ministro Eros Grau, do STF, proferia a aula inaugural da "Turma Especial de Direito para Beneficiários da Reforma Agrária e Agricultores Familiares" no Cine Teatro São Joaquim, localizado no coração da Cidade de Goiás, antiga capital do estado homônimo. Nos discursos que antecederam sua fala, recuperou-se a história do curso de Direito da Universidade Federal de Goiás, que, a exemplo dos demais cursos de Direito públicos e gratuitos do Brasil, sempre serviu às elites econômicas, intelectuais e políticas do País. Não porque a filosofia do sistema público de educação, da universidade, da faculdade ou do próprio curso de Direito seja de excluir a grande maioria dos que ali desejam estar, mas certamente porque as condições de acesso e permanência, em níveis de desigualdade real, se encarregaram de manter a seleção por mais de um século. Felizmente, o avanço linear dessa situação já não é possível, graças ao corajoso projeto que une movimentos sociais, academia e governo (ou parte deles).

Logo no início da aula, que teve como tema "O Direito posto e o Direito pressuposto", o Ministro professor lembrou aos estudantes calouros que o Direito não tem ompromisso imediato com a justiça, mas com a ordem. Deixou claro que as normas jurídicas têm uma dimensão normativa, além da legislativa, e depositou verbalmente sua esperança naqueles jovens, dizendo-lhes que devem ser bons "intérpretes" do Direito. Infelizmente nem todos os aprovados no vestibular especial ocorrido em março conseguiram chegar a tempo para este momento, mas tenho certeza que, assim como eu, os que estiveram lá naquela noite não esquecerão suas palavras.

Se a maior parte do auditório lotado compartilhava do "espírito" daquela solenidade, os pedaços de História que cada um portava consigo certamente propiciaram, naquele momento, interpretações diversas. Assim como o fato ocorrido no Largo São Francisco.

Quem invadiu a Faculdade de Direito naquela madrugada? Depende da interpretação que se der aos fatos e à própria norma jurídica.

Se todos somos iguais, se todos temos direito de ir e vir e se todos temos direito à livre expressão, o que diferencia os cidadãos militantes dos movimentos sociais EDUCAFRO e MST dos intocáveis estudantes universitários? Por que apenas os militantes dos movimentos foram fichados pela DP?

Um jornal publicou o desabafo de um aluno na lista de e-mail dos estudantes da Faculdade: "Foi triste ter que sair pela porta dos fundos da Sanfran. Foi triste ter que pedir para sair da faculdade. Foi triste não poder entrar pela porta da frente."

No orkut, os manifestantes foram chamados de "marginais", "delinqüentes", "nojentos" e "ridículos". Um fulaninho que não merece ter seu nome citado, reclamou "o MEU direito CONSTITUCIONAL de ir e vir. Direito pelo qual morreram Carlos Lamarca, Marighella, Stuart Angel, Bacuri, Yara Iavelberg, Vladimir Herzog e tantos outros bravos que lutaram, deram sua vida por uma liberdade que hoje em dia é pisoteada por tão pouco..."

Historicamente, foram sempre os "OUTROS" que entraram e saíram pela porta dos fundos e a perspectiva de ter que dividir a universidade com negros, pobres, indígenas e camponeses deve apavorar a maioria dos nobres estudantes da São Francisco.

Marginais, delinqüentes, nojentos e ridículos são adjetivos usados por quem desconhece os problemas de sua sociedade e os objetivos das lutas sociais. Infelizmente, esta opinião, percebe-se, está naturalizada em certos círculos, que se tornam agentes geradores e reprodutores da violência discriminatória.

Quando o estudante reivindica seu direito de ir e vir, esquece que os manifestantes presentes ao ato são beneficiários desse mesmo direito, quiçá mais merecedores do que ele próprio – porque sujeitos ativos na luta pela sua efetivação. A seqüência do seu depoimento é, curiosamente, uma concordância com a ocupação da USP. Os lutadores citados por ele como heróis que garantiram a liberdade de todos nós, são os mesmos que inspiram as lutas dos movimentos sociais atacados.

No entanto, dizer que a liberdade está sendo "pisoteada por tão pouco" é um enorme equívoco. Primeiro, porque não está sendo pisoteada, mas reivindicada em sua plenitude, para além de leis e filosofias utópicas. Segundo, porque não é pouco a um cidadão que jamais sonhou pisar numa universidade exigir educação de qualidade em todos os níveis para que seus filhos e netos possam estar ali em breve.

O que a noite do dia 17 de agosto em Goiás tem a ver com a madrugada do dia 22 em São Paulo?

São as duas faces de uma mesma realidade. De um lado, a conquista dos camponeses aclamada por uns com fervor (não sem antes passar por inúmeros questionamentos) e com a esperança de que justiça e direito finalmente estejam mais próximos. De outro, a luta reprimida por outros com brutalidade, em nome da ordem.

Tomando de empréstimo as palavras do sábio Dom Tomás Balduíno naquela primeira noite, gostaria de alertar aos nobres estudantes da USP: hoje é mais uma ocupação! E só para reafirmar: Ahá Uhú, a UFG também é nossa!
Recordarás aquela quebrada caprichosa
onde os aromas palpitantes subiram,
de quando em quando um pássaro vestido
com água e lentidão: traje de inverno.

Recordarás os dons da terra:
irascível fragrância, barro de ouro,
ervas do mato, loucas raízes,
sortílegos espinhos como espadas.

Recordarás o ramo que trouxeste,
ramo de sombra e água com silêncio,
ramo como uma pedra com espuma.

E aquela vez foi como nunca e sempre:
vamos ali onde não espera nada
e achamos tudo o que está esperando.

(Pablo Neruda)

quarta-feira, 21 de março de 2007

"How does it feel
How does it feel
To be on your own
With no direction home
Like a complete unknown
Like a rolling stone"